Por que a ansiedade e o TDAH estão tão ligados?

A relação entre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a ansiedade é complexa e bidirecional. Embora sejam condições distintas, elas frequentemente coexistem. Estudos mostram que uma grande parte das pessoas com TDAH também sofre de algum transtorno de ansiedade, e essa comorbidade pode complicar tanto o diagnóstico quanto o tratamento.
A ligação entre TDAH e ansiedade não é uma coincidência. As características centrais do TDAH — como a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade — criam um ambiente propício para o desenvolvimento da ansiedade. Ao mesmo tempo, a ansiedade pode exacerbar os sintomas do TDAH, criando um ciclo vicioso difícil de quebrar.
TDAH como gatilho para a ansiedade
As dificuldades enfrentadas no dia a dia por quem tem TDAH podem ser uma fonte constante de estresse e, consequentemente, de ansiedade.
1. Dificuldades acadêmicas e profissionais
A desatenção e a dificuldade de organização do TDAH frequentemente resultam em problemas na escola ou no trabalho. Pessoas com TDAH podem ter dificuldades em entregar tarefas no prazo, cometer erros por falta de atenção e se sentir sobrecarregadas com grandes projetos. Essa luta constante pode gerar uma ansiedade intensa sobre o fracasso, a sensação de não ser “bom o suficiente” e o medo de ser julgado por colegas, professores ou superiores. A ansiedade de desempenho é um sintoma comum nesse cenário.
2. Dificuldades sociais
A impulsividade e a desatenção podem impactar negativamente as relações sociais. Uma pessoa com TDAH pode interromper os outros sem querer, ter dificuldades em seguir uma conversa ou se comportar de forma que é mal interpretada. Essas interações sociais negativas podem levar à ansiedade social, ao medo de rejeição e à sensação de isolamento. O esforço para “se encaixar” e esconder os sintomas do TDAH pode ser exaustivo e alimentar ainda mais a ansiedade.
3. Impulsividade e suas consequências
A impulsividade, uma característica central do TDAH, pode levar a ações precipitadas com consequências negativas. Isso pode incluir gastos excessivos, decisões de relacionamento ruins ou comentários inadequados. Depois que a ação impulsiva ocorre, a pessoa com TDAH pode sentir uma ansiedade avassaladora e um grande arrependimento, o que leva a uma preocupação constante em cometer erros no futuro.
4. Dificuldade em regular as emoções
Muitas pessoas com TDAH têm dificuldade em regular suas emoções. Pequenas frustrações podem se tornar grandes explosões de raiva ou tristeza. Essa desregulação emocional é frequentemente acompanhada por uma sensação de perda de controle, que é um terreno fértil para a ansiedade. A pessoa pode se preocupar em como vai reagir a uma situação, gerando uma ansiedade antecipatória.
A ansiedade pode se disfarçar de TDAH
Em alguns casos, a ansiedade pode mascarar os sintomas do TDAH, tornando o diagnóstico ainda mais complicado.
1. A preocupação constante interfere no foco
A ansiedade é caracterizada por preocupação excessiva e pensamentos acelerados. Essa “ruminação” mental pode ser facilmente confundida com a desatenção do TDAH. Uma pessoa com ansiedade pode parecer distraída porque sua mente está ocupada com preocupações, e não porque ela tem uma dificuldade primária de atenção. Um diagnóstico incorreto de TDAH pode levar a um tratamento ineficaz e agravar a ansiedade.
2. Inquietação e hiperatividade
A inquietação física (como mexer as pernas, roer unhas ou balançar o corpo) é um sintoma tanto do TDAH quanto da ansiedade. No TDAH, a hiperatividade é uma característica central. Na ansiedade, a inquietação é uma manifestação física da tensão interna. A diferença está na causa subjacente: a inquietação do TDAH é uma necessidade interna de movimento, enquanto a inquietação da ansiedade é uma tentativa de aliviar a tensão emocional.
O ciclo vicioso da comorbidade
Quando o TDAH e a ansiedade coexistem, eles se reforçam mutuamente, criando um ciclo difícil de ser quebrado.
- Dificuldade com TDAH: A pessoa com TDAH se atrasa para uma reunião importante por causa da sua falta de organização.
- Ansiedade surge: A pessoa sente uma ansiedade intensa sobre o que seu chefe vai pensar e como isso pode afetar sua carreira.
- Sintomas pioram: A ansiedade faz com que ela se sinta ainda mais distraída e incapaz de se concentrar em seu trabalho, o que aumenta a probabilidade de cometer novos erros.
- Crenças negativas: A pessoa começa a acreditar que é incompetente e que nunca conseguirá ser bem-sucedida, o que alimenta ainda mais a ansiedade e a baixa autoestima.
Estratégias de tratamento
O tratamento para a comorbidade de TDAH e ansiedade exige uma abordagem abrangente e individualizada.
- Medicação: O uso de medicamentos estimulantes para o TDAH pode ser eficaz, mas em alguns casos, pode aumentar a ansiedade. O médico pode optar por medicamentos não estimulantes ou por uma combinação de medicamentos para TDAH e antidepressivos/ansiolíticos.
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): A TCC é frequentemente a terapia mais eficaz. Ela ajuda a pessoa a identificar e mudar padrões de pensamento negativos que alimentam a ansiedade, além de fornecer ferramentas e estratégias para lidar com os sintomas do TDAH, como organização, gestão do tempo e regulação emocional.
- Mindfulness: Práticas de atenção plena podem ajudar a pessoa a se concentrar no momento presente, reduzindo a ruminação ansiosa e melhorando a atenção.
- Ajustes no estilo de vida: Uma boa alimentação, exercícios físicos regulares e uma rotina de sono consistente são fundamentais para gerenciar tanto o TDAH quanto a ansiedade.
É crucial que o diagnóstico seja feito por um profissional qualificado, que consiga diferenciar os sintomas e entender a complexa relação entre as duas condições para que o tratamento seja realmente eficaz. Ignorar um dos transtornos pode levar ao agravamento do quadro e a uma qualidade de vida significativamente reduzida.
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